Um Filme de Verdade

- Eu assisto muita televisão. - diz Ele, enquanto da varanda, olha a chuva.
- Isso é ruim? - pergunta ela, olhando a chuva enquanto calmamente se encosta no ombro dele.
- Não... - responde, levando uma das mãos a cabeça dela, fazendo carinho. - Eu cresci achando que fosse possível trazer para a realidade todas aquelas coisas dos filmes!
- Que coisas? - indaga curiosa.
- Tudo! As cenas engraçadas, os momentos marcantes e o romance que embalam os corações por aí. - uma pausa é feita, Ele respira, mais um afago nela, um relâmpago corta o céu, iluminando por alguns segundos onde estavam - eu sei que isso tudo é loucura, mas, eu acredito que é possível.
Os segundos passam, Ela se afasta um pouco e o olha fixamente. Ele faz o mesmo e entre um relâmpago e outro, a luz que ali se mostrava por alguns segundos, era o bastante para se olharem.
- Mostra pra mim.
- O que?
- Que isso tudo não é loucura e que nossa vida pode ter um pouco dos filmes, da televisão.
- Sério? - indaga Ele, ainda a olhando. Leva a mão ao rosto dela e a alisa, sorri. - Tá bom.
Ele se levanta, pega o celular e diz:
- Toma, acende a lanterna.
Ela o faz, iluminado bem o local. Ele a olha, respira fundo, senti a luz da lanterna aquecer o corpo.
- Como toda criança, eu amava desenhos animados. Ficava horas na frente da TV rindo e tentando imitar os personagens. O desenho que eu mais gostava era o do Papaléguas - fez uma pausa, olhou para ela e viu aqueles olhos focados, curiosos sobre ele, sentiu-se feliz - Lembra do modo como ele e os outros personagens se preparavam pra correr?
Ela ascena positivamente com a cabeça.
- Olha... - Ele então apoiou-se em uma das pernas, quase que formando um quatro, arqueou os braços, da mesma forma que por diversas vezes o coiote fazia nos desenhos, inclinou um pouco o corpo, completando assim sua imitação.
Os olhos dela ficaram surpresos por um instante. Ele agora parecia um personagem de desenho animado, preparado para correr desenfreadamente.
- Alguém me segure! - disse antes de sair correndo feito um louco pela a varanda escura. Ela ria daquele que corria loucamente pela a escuridão. Com a lanterna tentava acompanhá-lo, em vão. Só conseguia ver seu vulto correndo e gritando "Bip-Bip" pelo o breu a fora.
- Já volto. - disse Ele passando por ela e entrando em casa desembestado. Ela com a lanterna mirou para o caminho que ele havia seguindo, ouviu um relâmpago e se assustou. Fitou a porta e da mesma forma que foi, ele voltou, porém, dessa vez com um guarda chuva em mãos.
- Pra que isso? Você não tá...
- Sim! - afirmou ele a interompendo.
Caminhou até o portão, o abriu rapidamente, sacou o guarda chuva e entrou no meio da chuva, ingnorou competente o frio daquele momento, sentia-se tão bem que, poderia nevar naquele instante, que ainda sim, estaria ali. Ela se levantou, caminhou em seguida, contudo, parando no portão.
- Sai daí seu maluco, você vai ficar doente. - repreendia-o sem resultado.
- Cantando na Chuva foi o melhor filme que assisti na vida. Jurei a mim mesmo que um dia, recriaria aquela cena e cá estou. I'm singin'in the rain...
Saudou sua sua única convidada, e pois-se a dançar. Se soltava e cantava, recriando com o máximo de perfeição a cena, fazia aquilo que podia para tornar tudo perfeito.
- I'm laughing at clouds... - já não se importava em acordar os vizinhos, cantava para Ela. Fazia todos o passos, parecia que o guarda chuva fazia parte de seu corpo. Naquele instante, sentiu-se o homem mais feliz do mundo.
Ela, do portão olhava surpresa, assustada e feliz, não sabia de sorria ou se gritava com ele. A chuva caia forte, fazendo barulho nos telhados das casas, Ele ali, sem se importar com o mundo, trazia a ela o mundo que havia descrito. Trazia para ela, o possível.
- Have a smile on my face... - passava pelas calçadas, cantando em alto e bom som pertos dos vizinhos. Tentou subir em um poste, no entanto, não conseguiu, era grande demais. Voltou para o meio da rua e num último ato, lançou o guarda chuva para o céu.
- And singin' in the rain! - a chuva caia, enquanto Ele sorria alegremente, olhando para Ela no portão, chocada, risonha e emocionada.
- Sa...sai daí. Vai ficar doente! - tentava chamar sua atenção, porém, sua voz agora embargada, o convencia do contrário.
- Já estou aqui a muito tempo, sair agora não ia mudar nada. - retrucou ele, sorrindo, contemplando as gotas que caiam sobre seu corpo. Olhou para Ela, em seus olhos e mesmo no escuro daquela noite, conseguiu ver a felicidade estampada neles. Então, esticou os braços, na direção dela - Vem!
- Não... - respondeu Ela, confusa. Sentia uma vontade enorme de se juntar a ele. Assim como sentia uma enorme vontade de continuar seca, além de que fazia muito frio.
- Vem! Vem comigo...
- Mas...
- Mas o que? - interrompe Ele - não se lembra? Estamos num filme, essa chuva é de mentira!
- Você é louco...
- Nos somos!
Ela então entrou debaixo da chuva, correndo para cima dele, o abraçou e então, engataram uma dança, para um lado e para o outro. Sentindo a chuva sobre seus corpos, agora eram um único ser. Compartilhavam da mesma emoção, da mesma cena. Como num romance clichê, eles viviam seu final feliz, mesmo que depois desse final viesse uma baita gripe, agora aquele momento era deles.
Se abraçaram mais forte, seus rostos se aproximaram, puderam sentir um a respiração quente do outro. A chuva caia e tudo se encaixava, seus lábios então se tocaram, mas não se beijaram, como num bom romance, o beijo é levado com certa sutileza, se afastaram e dessa vez, os lábios se encontraram num beijo alucinante. Toda a emoção daqueles momentos vieram de uma vez naquele beijo. Ela, sentia-se completa, nao ligava mais para as roupas molhadas ou se ficaria doente, só queria estar ali, pelo maior tempo possível, naquele beijo. Ele, sentia em seu peito que jamais havia sido tão feliz, estava num filme, no seu filme, no filme que desde de pequeno havia sonhado. Esse era seu final feliz, esse era o romance, que embalava seu coração.

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