[Conto] Um Pedaço Teu - Parte Um

Por Andre Oliveira


Assombrado



    Era mais uma segunda como qualquer outra para Pedro: acordar no sofá, todo torto e fedendo a um monte de bebidas. Um ritual mantido algum tempo desde que a tristeza e melancolia se tornaram parte de sua vida.

    Uma dor de cabeça aguda toma-o por completo enquanto tenta se sentar no sofá. Pedro tenta inutilmente se lembrar do que havia feito durante o fim de semana. Esfregou os olhos e agradeceu pela a cortina ainda fechada. Um pensamento lhe ocorreu tão rápido quanto a dor que atormentava "ela ainda não veio", porém, não se lembrava ao certo quem seria "ela".


    Pedro levantou-se tão lento quanto uma senhora com dores nas costas, tentava se manter em pé assim como o um trapezista sobre a corda bamba. Dessa vez a bebedeira foi demais. Equilibrou-se após algum tempo é só então pode ver como as coisas estavam. Pedro estava de cueca samba-canção no meio da sala de seu apartamento. Conseguia enxergar algumas peças de roupa, porém, não sabia distinguir quais devido a escuridão oferecida pelas cortinas. Pensou em abrir-las, mas, voltou atrás ao imaginar que poderia se desintegrar como um vampiro.

    - Preciso de um banho... - disse Pedro a si mesmo enquanto tentava caminhar a procura de apagador para ascender a lâmpada da sala - Oh Deus... Eu nunca mais vou beber. Se o Senhor me ajudar a achar o apagador e o banheiro eu pro...

    Antes que pudesse terminar sua prece, Pedro ouviu passos ao longe, focou em ouvir de onde vinham. Sem sorte, mal conseguia ver, ouvir era fora de questão. Voltou a sua procura pelo apagador em meio ao breu da sala de estar. Colocou as mãos sobre a parede e assim, de forma inteligente e desesperada tateava cada centímetro da parede.
    Os passos se aproximavam com certa rapidez e sem saber porque, Pedro se desesperava a cada segundo.

    - Cadê esse maldito apagador?

    Os passos pararam em frente a porta de seu apartamento. Pedro sentia o coração bater lentamente. 

    Quem estará lá fora? Que merda fiz dessa vez?

    Pobre garoto, tremia feito vara verde. Esqueceu de vez de procurar o apagador e seguiu até a porta para olhar pelo o olho mágico. Antes que pudesse chegar a porta, ouviu chaves batendo umas nas outras e uma delas sendo colocada na fechadura. Seu coração apertou e junto com o girar da maçaneta veio a porta se abrindo lentamente, trazendo consigo a luz que ele procurava, porém, destruindo o pouco de visão que lhe restava. Contorceu-se todo tentando fracassadamente se proteger da incessante luz.

    - Bom dia, Idiota! - uma voz feminina invadiu seus ouvidos e outro pensamento lhe ocorreu.

    " Meu Deus... É "ela"!